Obras Literárias
Régis Cardoso
Ilha de Raviera
(2016)
Palavras-Chaves
LGBT
Homofobia
Autoaceitação
Autodescoberta
Romance
Laços familiares
Utopia distópica
Livro "água com açúcar"
Altamente descritivo
Sinopse
Há aproximadamente setenta anos, a comunidade LGBT brasileira resolveu construir seu próprio porto-seguro; um lugar onde fosse devolvida a humanidade que lhes fora roubada. Esta é a Ilha de Raviera. Rafa, um menino de quinze anos, doce, introvertido e muito observador, foge de casa e descobre na Ilha um novo lar. Ao pisar na balsa, descobre uma realidade invertida na qual, surpreendentemente, encaixa-se. O mesmo não acontece com seu melhor amigo, Vitor, que, por ser heterossexual, sente na pele o que as pessoas LGBTs sentem lá fora. Raviera guarda segredos sombrios: uma organização criminosa, a Efígie de Raviera, com um senso de justiça nojento e vingativo. Ainda que os próprios moradores da Ilha tenham conseguido, pela vontade da maioria, extinguir esta organização horrenda, há vários vestígios que sugerem o contrário. Por outro lado, esta nova realidade permite que Rafa se aceite e se compreenda por completo, fazendo de seus amigos a sua própria família, todos demasiadamente humanos. Ele aprende que o amor, que lhe fora negado até então, também é para ele, e que sua família não é menos família por ser formada por pessoas de mesmo gênero. Este não é um livro como os que podem ser encontrados nas prateleiras da livraria mais próxima. Não há magos, dragões, tampouco agitadas cenas de ação. Rafa não é nenhum super-herói. É apenas um garoto normal, e talvez seja justamente isso que faça dele tão especial: saber que não é uma anomalia da natureza, que é um menino como qualquer outro.
Comentário
Ilha de Raviera foi escrita durante três anos por um adolescente que, procurando descobrir-se, criou como válvula de escape uma sociedade na qual fosse aceito por inteiro. Com isso, deu forma — e vida — a personagens muito carismáticos, abordando questões como a constituição familiar, o peso social que possuem os relacionamentos, a ostracização cotidiana das minorias, o revanchismo vingativo e a homofobia internalizada. A beleza desta história não se encontra em aventuras heroicas, explosões, peripécias e um clímax intenso; se encontra, antes, nas teias de relações humanas e inseguranças pessoais que se escondem por detrás dos detalhes da vida cotidiana. Por ter sido escrita dos dezesseis aos dezenove anos, a história amadurece junto com o autor e perpassa vários estilos de escrita ao longo dos capítulos. O próprio tipo de foco narrativo reflete a mentalidade de um adolescente que entra num período de transição até tornar-se um jovem adulto.
Onde ler
Cogumelo de Adão
(2017)
Palavras-Chaves
Metaescrita
Filosofia
Juventude Universitária
Indivíduo vs Sociedade
Identidade
Hipocrisia
Questionamento da Realidade
Sinopse
Como seria se um personagem pudesse falar com seu autor, descobrindo que sua própria existência é apenas parte de uma história? Com a ajuda de alguns cogumelos duvidosos, Adão começa a conversar com seu criador. É obrigado, então, a questionar as verdades mais fundamentais de sua vida. Se antes não sabia se a voz sobrenatural era real, passa a não saber se ele próprio o é. Naquela relação imaginativa, quem é criador e quem é criatura? Enquanto passa por um momento conturbado de redescoberta de sua própria identidade, Adão tenta achar seu lugar entre as pessoas — e entre si mesmo. Cada pessoa com quem o rapaz se depara enfrenta também suas próprias lutas internas, suas dores e hipocrisias inerentes à espécie humana. Há o Meia, seu colega de apartamento, que possui uma obsessão religiosa e uma homofobia internalizada; Lorenzo e Julinho, que têm pais que escolhem diariamente ser ausentes na vida dos filhos para dar a eles uma vida financeira confortável; Teresa, que no meio de sua ternura teve uma recaída em sua depressão; e Horácio, que mais parece um animal arisco, após tanto ser hostilizado pelas pessoas ao seu redor. Adão consegue um emprego e lá descobre a selvageria do mercado profissional. Sente sobre as suas costas o peso da vida adulta e do amadurecimento, que se faz às custas das ilusões confortáveis que sustentavam sua realidade. No entremeio de situações estressantes, descobre suas próprias incoerências internas e com elas aprende, como quem toma um remédio amargo e necessário.
Comentário
A história trata da sociedade enquanto coletividade mecanizada, da hipocrisia humana, das drogas (seus tabus & seus riscos reais), das crises de relacionamento moderno e sobretudo da metaescrita (a escrita sobre a escrita). Ocorre que, fascinado pela magia e pelo poder da ficção, Adão dá início à escrita de seu próprio livro, preparando Laura para a revelação de que ela é uma personagem de um personagem. Em Cogumelo de Adão, as vulnerabilidades de cada um se mostram um poço de sutilezas e complexidades profundas.
Onde ler
Calma Tormenta
(2018)
Palavras-Chaves
Desabafos filosóficos
Prosa poética
Autodescoberta
Reflexões sobre a vida
Sinopse
Calma Tormenta é um diário de confidências, um convite à minha intimidade psíquica. É uma estátua feita com as pedras que pavimentaram o meu amadurecimento; é o registro íntimo de como cresci e floresci enquanto pessoa no último ano. Foi junto a este livro — e sobretudo através dele — que pude reunir os cacos que os anos fizeram de mim, para me tornar, assim, um pouco mais quem eu sou. Calma Tormenta é sobre redescoberta. É, antes de mais nada, uma exploração das possibilidades da palavra.
Comentário
A escrita se impõe sobre mim como uma necessidade. É o meu momento de maior liberdade para me ser; para me desdobrar nas minhas potencialidades e exercer a voz que me constitui como sujeito. A escrita é a minha maior ferramenta de autodescoberta e de contato genuíno com o mundo. Ela é a minha ponte para a conexão verdadeira com as outras pessoas, e também o lugar onde aprendi a cavar minha própria solidão.
Onde ler